quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O fim está chegando

Sejam todos bem vindos ao fim. Não é um fim com maiúscula, só um fim, porque cada coisa tem o seu e nenhum é melhor do que outro. Todos encerram, marcam, definitivamente, o início de um novo caminho ou a impossibilidade de caminhar da mesma maneira novamente.
Com o fim chegando, não havemos de nos preocupar com futilidades, pois ele nos faz práticos em relação às atitudes que nos trazem felicidade. Conserve ao máximo seus sorrisos, mantenham seus rostos joviais e alegres. Nada de alegria insana, mas da boa e simples de saber-se vivo ao acordar e, cansado e agradecido, chegar o cansaço que leva ao descanso.
No fim só iremos querer ter feito mais. Um pouco mais. Um suspiro que seja é lucro. Todos os bons dias cotidianos que negamos farão falta e iremos querer recuperá-los. Não há como, pois o fim traz em si a certeza de que não há retorno. Os números se adiantaram à frente de nossa vida. De repente havia a preocupação com a quilometragem do carro, com o rendimento da poupança, com guardar parte do salário e sem perceber, ensimesmados, nao vimos o desfile de pessoas, riquezas, corações à nossa volta enquanto olhávamos um extrato bancário ou documento.
O fim vem chegando. Agora, certamente, não é hora de desespero. Ele que sempre devagar se aproximava que nos esquecemos dele, está quase agora a tocar-nos o ombro. Não, não é hora para ter medo. É hora de, com maturidade e naturalidade, olharmos em seus olhos sabendo que o tudo que fizemos, que talvez agora consideremos pouco, foi o melhor, o melhor que podíamos fazer com o aprendizado que tínhamos. O ensaio da Vida é a própria peça teatral, o espetáculo foi feito. Sem lágrimas, mas com um sorriso feliz, seguro de tudo que fizemos, agora, o vemos e até o esperamos. Ele está perto. Não está feliz nem triste, faz o que tem que fazer e o faz sempre. Alcança a todos em todos os lugares. Não há ninguém que dele escape.
Pronto, chegou, não há mais quase espaço entre nós. Está quase a tocar-nos o ombro com sua face séria. Após tocar-nos leva-nos poucos passos adiante em direção a uma porta que tem alguns adornos muito bonitos em sua estrutura e superfície envernizada. Começa a abri-la enquanto esperamos, agora sim, um pouco nervosos, para ver o que há por detrás. Repentinamente começamos a enxergar outra porta. Agora é de vidro, um pouco embaçado. Poucas coisas se distinguem como silhuetas ao fundo, deixando entrever apenas imagens do que, talvez, seja o que imaginamos do outro lado. Solta nosso braço e com uma voz calma, quase sussurrante diz ao nosso ouvido o que parece ao mesmo tempo uma ameaça e um incentivo: "Agora vou-me embora. De agora em diante é com você". Nada mais sai daquela nebulosa voz enquanto a figura vira-se e vai embora. Agora podemos distinguir um relevo de vidro liso na porta. Está escrito 2009. Agora conscientes da nossa solidão, resta-nos os próximos passos. É mais um ano que se inicia
Everton de Almeida Oliveira
Jornalista

2 comentários:

Unknown disse...

Éverton!!!!! Como surgiu esse texto.... não faz isso com a gente!!!!!
Vai ser SEMPRE lembrado e deixará saudades etrenas!!!!
Primo querido que vc fique em Paz!
Hélia

Anônimo disse...

Sempre o considerei otimista, assim como ele se descrevia a si próprio!

att.,

Fábio